outubro 29, 2009

[des]conto de fadas

Meu príncipe não chegaria num cavalo.
Viria a pé, com uns trocados no bolso pra uma bebida,
calça jeans, tênis e uma camisa de estampa curiosa e incomum.
E me encontraria ali, nos meus sonhos,
porque príncipes, sejam como for, não existem.

outubro 15, 2009

Amor bastante

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

[Paulo Leminski]

outubro 12, 2009

Besteirinha

Então te escrevo, te desenho, te imagino.
Te ouço, te leio, te animo.
Te odeio, te amo, te domino.

Te faço minha mais linda fantasia,
te dou a mais bela melodia,
só pra poder te tocar um dia.

outubro 08, 2009

Bloco de notas

Era um dia comum, foi trabalhar.
Cruzou a avenida, passou por postes, muros, pessoas desconhecidas. Não se importava, não reparava, nao percebia; afinal, pra ele, era apenas mais um dia comum.
Na estação, comprou seu passe, sentou e esperou.
Sua timidez era refletida em seus gestos: acabou por sentar-se isolado em um canto, puxou seus fones de ouvido e se desligou do resto do mundo.
Não chegava a chamar atenção. Não era alto, não era bonito. Usava uma camisa branca com algo xadrez sobreposto, calças largas e cabelo despenteado.
Percebeu a movimentação; seu metrô chegara. Não se sentia nada bem com aquela multidão, todas aquelas chegadas e partidas, ainda mais naquele horário.
Indo em direção a uma das entradas, acabou por reparar os rostos sonolentos e cansados das outras pessoas que voltavam de um suposto horário de almoço.
E então, de inesperado, seus olhos se cruzaram com os dela.
A música que ouvia se tornou surda, a multidão em volta desaparecera. Fitaram-se por uns instantes, o que teria passado pela cabeça daquela linda moça?
Fluía dela um jeito decidido, extrovertido e engraçado. Era magra, toda pequena e desajeitada, cabelos castanho-avermelhados e levava consigo um pequeno bloco: parecia gostar de confessar suas maluquices e desejos naqueles pequenos papéis.
Permaneceram ali, parados, se observando. Ele pensava "apenas alguns metros, apenas alguns metrôs, onde se enfiou a coragem de tomar uma iniciativa?"
Passado o primeiro efeito, percebeu que as portas ameaçaram se fechar.
Ela era a chegada, ele a partida.
Olhou em volta: o barulho, as portas, as pessoas, ela. E quando deu por si, percebeu que aquela pequena criatura, sutil e doce, havia desaparecido.
Olhou em volta novamente e constatou: ela realmente transformou-se em partida.
Resolveu pensar que tudo nao havia passado de um sonho, ou uma sensação única, mas de momento.
Perdeu a hora. Perdeu o metrô. Perdeu aqueles olhos.
E na estação, comprou seu passe, sentou e esperou.
O que ele não sabia era que, após chegar em casa e revistar seus bolsos, umas palavras escritas em um papel de bloco, com uma letra desconhecida, o fariam perceber que, definitivamente, aquele nao fora um dia comum.

outubro 07, 2009

Céu à pincelada.

Ontem dormi com a impressão de uma noite clara.
A lua brilhava no céu de um jeito intenso,
as nuvens que pairavam por perto logo se intimidavam e abriam espaço novamente pra verdadeira estrela da noite.
Deitei no chão pra observar.
Estrelas mesmo eram poucas,
mas nem se fossem muitas apagariam o brilho daquela lua de ontem.
Dormi.
Ao acordar e avistar o céu da manhã de uma quinta feira comum,
percebi que aquelas nuvens tímidas da noite passada eram as protagonistas daquela peça matinal.
Pareciam figuras borradas refletidas num espelho;
eram rosas, faziam do céu uma tela pintada com tinta a óleo,
misturando azul, rosa e lilás, realçando ainda mais, dentro de mim, a mistura dos meus próprios sentimentos.
Me dei conta da hora.
Parti.
Mas eu sabia que um céu daquele jeito eu nunca mais veria, não aqui.

outubro 06, 2009

Primeira vez.

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece.
Acho que o primeiro post também deveria ser tratado assim, já que ele vai introduzir esse blog e causar a famosa primeira impressão.

Talvez eu devesse dizer aqui o que pretendo criando um blog.

Ou talvez não.

Sim ou não, acho que prefiro muito mais expressar meus sentimentos em palavras do que de qualquer outro jeito; me sinto mais segura, sem medo de falar alguma grande besteira e quebrar a cara, mesmo sabendo que estamos sujeitos a isso todos os dias
(o tempo todo).
O negócio é que, às vezes, precisamos apenas de um empurrãozinho para admitir aquilo que persistimos negar dentro de nós. Da onde vem o empurrão eu não posso dizer, mas você pode escolher se vai se entregar a queda ou não.
Enquanto isso, deixo meu empurrão se fazer em palavras.
A quarta-feira já se aproxima, façam seus pedidos ao bater da meia-noite!

Agora vou dormir, preciso me arriscar amanhã mais uma vez.