outubro 08, 2009

Bloco de notas

Era um dia comum, foi trabalhar.
Cruzou a avenida, passou por postes, muros, pessoas desconhecidas. Não se importava, não reparava, nao percebia; afinal, pra ele, era apenas mais um dia comum.
Na estação, comprou seu passe, sentou e esperou.
Sua timidez era refletida em seus gestos: acabou por sentar-se isolado em um canto, puxou seus fones de ouvido e se desligou do resto do mundo.
Não chegava a chamar atenção. Não era alto, não era bonito. Usava uma camisa branca com algo xadrez sobreposto, calças largas e cabelo despenteado.
Percebeu a movimentação; seu metrô chegara. Não se sentia nada bem com aquela multidão, todas aquelas chegadas e partidas, ainda mais naquele horário.
Indo em direção a uma das entradas, acabou por reparar os rostos sonolentos e cansados das outras pessoas que voltavam de um suposto horário de almoço.
E então, de inesperado, seus olhos se cruzaram com os dela.
A música que ouvia se tornou surda, a multidão em volta desaparecera. Fitaram-se por uns instantes, o que teria passado pela cabeça daquela linda moça?
Fluía dela um jeito decidido, extrovertido e engraçado. Era magra, toda pequena e desajeitada, cabelos castanho-avermelhados e levava consigo um pequeno bloco: parecia gostar de confessar suas maluquices e desejos naqueles pequenos papéis.
Permaneceram ali, parados, se observando. Ele pensava "apenas alguns metros, apenas alguns metrôs, onde se enfiou a coragem de tomar uma iniciativa?"
Passado o primeiro efeito, percebeu que as portas ameaçaram se fechar.
Ela era a chegada, ele a partida.
Olhou em volta: o barulho, as portas, as pessoas, ela. E quando deu por si, percebeu que aquela pequena criatura, sutil e doce, havia desaparecido.
Olhou em volta novamente e constatou: ela realmente transformou-se em partida.
Resolveu pensar que tudo nao havia passado de um sonho, ou uma sensação única, mas de momento.
Perdeu a hora. Perdeu o metrô. Perdeu aqueles olhos.
E na estação, comprou seu passe, sentou e esperou.
O que ele não sabia era que, após chegar em casa e revistar seus bolsos, umas palavras escritas em um papel de bloco, com uma letra desconhecida, o fariam perceber que, definitivamente, aquele nao fora um dia comum.

Um comentário:

Eduardo Flávio disse...

Nem preciso dizer o quanto gostei né?
"sutil e doce" acho q eu conheço uma menina assim!=D
Eduardo Flávio