janeiro 27, 2010

singular

É a única característica que não podemos optar por ter ou não: sermos únicos.
Somos tão únicos que cada um tem um jeito de pegar um copo, apontar um lápis, levantar a sobrancelha. Um jeito único de sentir, de sonhar, de sorrir. As pessoas acabam nos conhecendo por manias, por gestos únicos, por jeitos únicos de ser.
Mas ser singular chega a ser um problema despercebido, pois, se pensarmos bem, é justamente isso que move a maioria das - ou até todas - divergências entre nós.
Digo isso porque o ser humano, em sua natureza, costuma defender suas opiniões, opiniões essas que, acredite, podem parecer, mas nunca são iguais. A individualidade que muitos prezam às vezes incomoda outros, fazendo disso um obstáculo em qualquer tipo de relacionamento.
Acho que, justamente por isso, muitas pessoas escondem suas reais idéias, por medo de não serem aceitas em determinado âmbito social. Mas qual a graça de conversar com alguém que não diverge opiniões?
É importante pensar também que costumamos agir como coletivo, mas que cada um tem seu jeito peculiar de agir. Portanto é mais que necessário saber respeitar as diferenças.
Quebrar parâmetros, ir contra as regras e se expor é importante. Não importa a época, não importa o meio, não importa raça, mas é preciso saber correr atrás daquilo que realmente se deseja, sem sentir vergonha!
Cada um tem guardado pra si um lugar no mundo. E ele será sempre único, será sempre seu e de mais ninguém.

"Como é por dentro outra pessoa?
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento."
(Fernando Pessoa)

janeiro 26, 2010

flutuar

O momento que mais temia acabou chegando, assim, de repente. A mão dela, pelo contrário, suou frio de automático.
E a cada frase dita, um aperto no peito, junto da certeza de que a verdade realmente poderia machucar.
Ele dá a deixa.
Ela nao resiste e acaba por confessar todos seus reais sentimentos ali mesmo, se apoiando apenas em palavras.
Agiu por impulso, mas, mesmo assim, ainda acreditava naquela reciprocidade.
Percebeu que havia se enganado.
Recebeu em troca apenas frases confusas,
que ora pareciam preencher seu vazio, ora pareciam a deixar ainda mais sem chão.
Despediram-se. Ele se foi, deixando novamente a esperança a qual ela sempre havia se agarrado;
disse que um dia faria tudo mudar.
E tudo mais que foi dito, agora se embaralhava em sua cabeça,
um misto de palavras confusas e perdidas, que só alimentavam sua angústia.
A dúvida, o alívio, o arrependimento.
Um segredo a menos, uma aflição a mais; foi o preço que pagou por amar.
Agora ela procura desesperadamente por um refúgio, porque aquele em que se acolhia já não era seguro mais.

janeiro 22, 2010

back

Foi como no despertar de um lindo pesadelo. O balde de água fria, quando se abre os olhos, sempre vem a calhar, não é verdade? Mas.. você consegue ver o desespero nesses meus olhos? Eu tenho medo. Eu rezei e não adiantou. Sonhava que vivia um sonho eterno, do qual nunca mais acordaria. Gritei em silêncio, esperneei sem me mexer, chorei em seco e ninguém me via, ninguém me ouvia. Aquilo virou pesadelo quando me dei conta da solidão que me aguardava. Meu Deus, alguém consegue perceber que eu estou aqui? Pelo menos não no meu sonho. Caí de joelhos em frente a uma poça, vi meu reflexo e pensei em usá-lo para acabar com tudo aquilo. Adiantaria? Acabaria com o sofrimento? Mas antes que eu prosseguisse, ouvi a vida me chamar de volta, como se insistisse para que eu não entregasse os pontos ali. Me levantei e dei de cara com alguém e, no susto, acabei despertando. Me vesti, fui à cozinha e tudo estava no lugar. Minha família ainda estava perto, mas agora já não distantes, como sempre os senti. Abracei-os com afeto verdadeiro, me senti vivo, me senti livre, mas nunca vim a saber quem me trouxe à vida novamente.

janeiro 08, 2010

caixa preta

E se tudo terminar, eu serei sua caixa preta;
guardada com afeto bem no fundo da gaveta,
e quando voce abrir, vai se encontrar lá dentro,
misturado à palavra, misturado à momento.

E se tudo terminar, eu serei sua caixa preta;
guardada com afeto bem no fundo da gaveta,
e quando voce abrir, vai me encontrar lá dentro,
pois sou feita de você, misturado à sentimento.