janeiro 31, 2016

inesperado

eram opostos. 

caminhos opostos, raízes opostas, objetivos opostos.
o único que haviam em comum era a vontade e a gana de ir atrás do que os fazia feliz.
se encontraram um dia, se viram dois, três, cinquenta. 
dias e dias de palavras balbuciadas e às vezes reprimidas, culpadas. 
dias e dias de gestos feitos e às vezes não evitados.
dias e dias de momentos não arrependidos.
dias e dias que os resgataram das complicações que pesavam.
haviam nós na garganta, e daí veio o problema. 
havia também o frio na barriga.
havia curiosidade, havia vontade.
havia algo que ninguém explicaria, só sabia que, de alguma forma misteriosa, existia.
e se aquilo tudo tivesse sido feito pra ser? e se..?
mas não se pode ter tudo aquilo que queremos.
depois de horas e horas, perceberam não ser a hora certa.
se perderam.

e assim como o vento leva flores e folhas sem que o possamos ver, ele soprou e os levou para caminhos opostos novamente.

sentiam uma felicidade meio confusa, mas que ainda fazia completo sentido.
era como um lago durante a primavera, onde quando o vento sopra, a água flui, 
onde quando observado de perto, fazia dos reflexos algo mais bonito, vivo.
e assim, quando se olhavam no espelho, a imagem refletia aquilo que era resultado do que tanto correram atrás.
um dia, porém, o espelho se quebrou. a primavera teve seu fim.
se enganaram, se machucaram, se fecharam.
pararam de sentir. 
pararam de acreditar.
e assim, quando se olhavam naquele espelho pobremente consertado, a imagem refletida já não era mais a mesma. 
agora, tudo parecia como um lago durante o inverno. congelado, sem reflexo, sem movimento, só branco.
e, de certa forma, vazio.


mas, assim como o vento sopra trazendo pólen às flores, ele soprou e os trouxe de volta a caminhos semelhantes pela primeira vez.

se reencontraram um dia, se viram dois, três, cinco.
horas e horas de palavras balbuciadas, às vezes cautelosas, às vezes inconsequentes.
horas e horas de passados sombrios, mas que de certa forma os trouxeram até ali.
horas e horas de gestos e sorrisos, acompanhados de um sentimento confuso e inesperadamente bonito.
no fim, só queriam sentir.
só queriam voltar a acreditar, mas era uma vontade profundamente protegida pela congelada camada daquele lago de inverno.
se viram cinco dias, seis, sete.
estar presente no universo mais pessoal do outro, pela primeira vez, acabou sendo mais profundo que imaginavam.
e no meio de tantas montanhas e uvas roxas, o que mais se procurava era uma única uva verde, aquela que existia, mas que não se podia ter naquele momento.
no fundo, já sabiam.
no fundo, já sentiam, só não sabiam o que.
bastava.
e assim, o vento soprou mais uma vez.
leve, morno, como uma mudança de estação.

minutos e minutos de puro silêncio, assistidos por uma árvore majestosa que, agora, fazia parte de toda aquela história.
o lago, agora com uma fina camada de gelo, refletia de maneira turva os dois rostos, então espelhos quebrados já não pareciam mais fazer sentido.
já não era mais apenas branco, já não estava mais completamente vazio.
felicidade parecia fazer algum sentido ali.
e toda aquela vontade profundamente protegida de voltar a acreditar, agora era algo imperceptivelmente perceptível:
ninguém a via, mas eles sentiam crescer.
e assim, não estavam mais opostos, mas sim dispostos.
dispostos a viver.
dispostos a acreditar.
dispostos a sentir o vento juntos mais uma vez.