abril 02, 2016

Vai

Vi-me atrelado ao seu juízo,
de portas e pernas abertas para o impreciso, o indevido, o incontrolável.
Juízo despido de notoriedades absurdas e limitado apenas àquilo que era, pura e simplesmente: um pecado nu e cru como o rascunho de um romance.

Seu juízo em mim é um masoquismo sentimental passivo, cujas dores que sinto me dão o prazer de me sentir vivo. É um conjunto de memórias que voltam sem querer ficar e partem com a certeza de permanecerem intactas. 

Meu vestígio de alma grita por liberdade desse seu juízo exarcebado, violento, oprimido.

Quero poder salientar minha essência no mundo, quero não precisar me afogar e reprimir meus desejos e sonhos em folhas de papel amareladas.

Vai. 

Me dê um único e último golpe da sua miserável misericórdia e me liberta de ti, pois vou descongelar minhas asas e vesti-las de primavera.

Vou pintar os muros do mundo com olhares alheios e sorrisos cheios de estrelas.
Vou fazer as pazes com minhas angústias e suas memórias,
e assim,
resgatar o apreço pelo vento no rosto, a admiração por um infinito colorido de azul,
o alívio de poder botar os pés no chão.

Livre.