outubro 15, 2011

pecado

E quem poderia dizer que um dia estaríamos à mercê de tantas provocações?
Os sussurros da noite calavam até seus pensamentos, aqueles proibidos, aqueles ressentidos, todos explicitamente negados, mas, interiormente fazendo de ti um crédulo tão profano.
A contragosto, a agitação invisível de um sol inerte desinibia águas, ares, seus olhos. Digo isso porque, ao contrário do esperado, seus olhos tornavam-se foscos à medida que os minutos iam se esgotando, ao invés de reluzirem enquanto a inércia tomava conta de uma lua qualquer.
As provocações continuam, as provocações do meio, da massa, da vida. Você se embriagou de uma certeza tão incerta, que afundou-se em ilusões.
Provoco-lhe agora pois, num descuido e num descaso, me vi como uma presa, fundida numa teia onde o mundo resumia-se ao meu predador. Vi-me atrelada ao fundo do seu poço de espera e desesperança, e, assim como gotas de chuva caem como pequenos cristais no telhado, caíram pequenos cristais afiados, como chuva, em meu interior já tão ferido.
Mas observava, certa de que cada dia provocava uma pontada de desgosto a mais em você, um sorriso em falso para aquela massa toda, inocentemente crédula em sua satisfação inexistente. Cada pergunta provocava um mar de dúvidas, aumentando o vazio, aprofundando aquilo que já se mostrava tão inalcançável. Cada gesto e cada palavra já soavam naturalmente como provocação, junto de cada consequência jamais antes pensada.
Digo isso apenas pelo fato de, mesmo o vendo tão perdido em tantas ilusões, ainda crer na existência de tudo a que tanto aspira. De crer na sua própria existência.
Na nossa existência.
Isso é concreto, ninguém pode contestar. Por mais duras as minhas palavras, acredito valer a pena cada pedaço perfurado em mim por pequenos cristais.
Acredito em sua embriaguez tão certa e nos seus olhos, friamente foscos pela noite, inutilmente perdidos no horizonte.
Queria eu poder encontrá-los e mostrar no que mais a vida pode-se resumir.
Queria eu poder curar uma ressaca de certezas com dúvidas construtivas e não ter cicatrizes como consequência de simplesmente acreditar.
Queria apenas que entendesse, essa é a minha forma de amar.

Nenhum comentário: