junho 20, 2012

Nós

Ah, o maldito Nós.
Primeira pessoa do plural, mas duas pessoas singulares.

Linhas amarradas, cabeças tumultuadas, vidas entrelaçadas: nós.
Não queira fazer o Nós com matemática.

O Nós, apesar de ser eu + tu, não passa de uma coisa só.
O nó, singular, vira efeito colateral dessa matemática invertida: nó na garganta, nó no estômago, nó na cabeça.
Idéias, pensamentos, sentimentos, todos confundidos, embaralhados, entrelaçados num grande nó.


Ah, o bendito Nós.
O Nós é rico. Rico de carinho, rico de sentimentos, rico de devaneios.
Eu quero teu bem, tu queres meu bem, logo nós acabamos construindo um bem ainda maior.
Se eu penso, tu pensas, logo nós pensamos juntos.
Se eu choro e tu choras, logo nós compartilhamos de inúmeros outros sentimentos e sensações.

Um nó pode ser cego e costuma ser desatado.

Um Nós, não.
Esse tal Nós, que nada tem de cego, consegue enxergar melhor que muitos eles e elas,
e depende do nó singular, própria e metaforicamente dito, para existir: não há Nós sem um nó entre eu e ti.

Resumindo,
somos aquela primeira e segunda pessoa, do não conjugável numeral,

somos um erro gramatical, mistura de singluar e plural,
somos apenas um,

um Nós.

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