agosto 09, 2016

das cinzas

onde procurei palavras, encontrei sentimento
onde procurei respostas, encontrei dúvidas
onde procurei mágoas, encontrei conformação.

minha alegria: perfurada, ferida, conformada. porém não mais esquecida
e assim, quando procurei o que procurar, encontrei o erro de não ter primeiro aceitado a falta
e assim, quando aceitei, abri meus olhos e meus pulsos para injetar esse alívio nas veias,
um suicídio inverso, que ressucitasse minha sensibilidade.

e assim, ressurgi. 
inesperadamente, ressurgi.

onde procurei sentimentos, encontrava agora as palavras perdidas dentro de mim.
onde procurei dúvidas, encontrei certezas.
onde procurei o brilho nos olhos, encontrei voce.

abril 02, 2016

Vai

Vi-me atrelado ao seu juízo,
de portas e pernas abertas para o impreciso, o indevido, o incontrolável.
Juízo despido de notoriedades absurdas e limitado apenas àquilo que era, pura e simplesmente: um pecado nu e cru como o rascunho de um romance.

Seu juízo em mim é um masoquismo sentimental passivo, cujas dores que sinto me dão o prazer de me sentir vivo. É um conjunto de memórias que voltam sem querer ficar e partem com a certeza de permanecerem intactas. 

Meu vestígio de alma grita por liberdade desse seu juízo exarcebado, violento, oprimido.

Quero poder salientar minha essência no mundo, quero não precisar me afogar e reprimir meus desejos e sonhos em folhas de papel amareladas.

Vai. 

Me dê um único e último golpe da sua miserável misericórdia e me liberta de ti, pois vou descongelar minhas asas e vesti-las de primavera.

Vou pintar os muros do mundo com olhares alheios e sorrisos cheios de estrelas.
Vou fazer as pazes com minhas angústias e suas memórias,
e assim,
resgatar o apreço pelo vento no rosto, a admiração por um infinito colorido de azul,
o alívio de poder botar os pés no chão.

Livre.

janeiro 31, 2016

inesperado

eram opostos. 

caminhos opostos, raízes opostas, objetivos opostos.
o único que haviam em comum era a vontade e a gana de ir atrás do que os fazia feliz.
se encontraram um dia, se viram dois, três, cinquenta. 
dias e dias de palavras balbuciadas e às vezes reprimidas, culpadas. 
dias e dias de gestos feitos e às vezes não evitados.
dias e dias de momentos não arrependidos.
dias e dias que os resgataram das complicações que pesavam.
haviam nós na garganta, e daí veio o problema. 
havia também o frio na barriga.
havia curiosidade, havia vontade.
havia algo que ninguém explicaria, só sabia que, de alguma forma misteriosa, existia.
e se aquilo tudo tivesse sido feito pra ser? e se..?
mas não se pode ter tudo aquilo que queremos.
depois de horas e horas, perceberam não ser a hora certa.
se perderam.

e assim como o vento leva flores e folhas sem que o possamos ver, ele soprou e os levou para caminhos opostos novamente.

sentiam uma felicidade meio confusa, mas que ainda fazia completo sentido.
era como um lago durante a primavera, onde quando o vento sopra, a água flui, 
onde quando observado de perto, fazia dos reflexos algo mais bonito, vivo.
e assim, quando se olhavam no espelho, a imagem refletia aquilo que era resultado do que tanto correram atrás.
um dia, porém, o espelho se quebrou. a primavera teve seu fim.
se enganaram, se machucaram, se fecharam.
pararam de sentir. 
pararam de acreditar.
e assim, quando se olhavam naquele espelho pobremente consertado, a imagem refletida já não era mais a mesma. 
agora, tudo parecia como um lago durante o inverno. congelado, sem reflexo, sem movimento, só branco.
e, de certa forma, vazio.


mas, assim como o vento sopra trazendo pólen às flores, ele soprou e os trouxe de volta a caminhos semelhantes pela primeira vez.

se reencontraram um dia, se viram dois, três, cinco.
horas e horas de palavras balbuciadas, às vezes cautelosas, às vezes inconsequentes.
horas e horas de passados sombrios, mas que de certa forma os trouxeram até ali.
horas e horas de gestos e sorrisos, acompanhados de um sentimento confuso e inesperadamente bonito.
no fim, só queriam sentir.
só queriam voltar a acreditar, mas era uma vontade profundamente protegida pela congelada camada daquele lago de inverno.
se viram cinco dias, seis, sete.
estar presente no universo mais pessoal do outro, pela primeira vez, acabou sendo mais profundo que imaginavam.
e no meio de tantas montanhas e uvas roxas, o que mais se procurava era uma única uva verde, aquela que existia, mas que não se podia ter naquele momento.
no fundo, já sabiam.
no fundo, já sentiam, só não sabiam o que.
bastava.
e assim, o vento soprou mais uma vez.
leve, morno, como uma mudança de estação.

minutos e minutos de puro silêncio, assistidos por uma árvore majestosa que, agora, fazia parte de toda aquela história.
o lago, agora com uma fina camada de gelo, refletia de maneira turva os dois rostos, então espelhos quebrados já não pareciam mais fazer sentido.
já não era mais apenas branco, já não estava mais completamente vazio.
felicidade parecia fazer algum sentido ali.
e toda aquela vontade profundamente protegida de voltar a acreditar, agora era algo imperceptivelmente perceptível:
ninguém a via, mas eles sentiam crescer.
e assim, não estavam mais opostos, mas sim dispostos.
dispostos a viver.
dispostos a acreditar.
dispostos a sentir o vento juntos mais uma vez.

abril 18, 2013

perder

Perca teus modos, perca o rumo de casa. Perca-se no meio da multidão ou no vazio do mar, entre as ondas. Perca os sentidos, perca a noção, perca o medo. Perca-se nos braços ou palavras de alguém, de modo a encontrar-se num universo simples e paralelo.
Perca a hora, perca o sono, perca o medo de sonhar. Perca afetos, perca dias em casa na chuva, mas não perca os dias de sol na praia. Perca compromissos, perca as lutas, mas não perca aquilo que lhe mantém vivo na guerra. Perca crenças, esperanças, a fé na humanidade, mas não perca a vontade de lutar por algo melhor. 


Perca amores e perca anos, só pensando no quanto já perdeu. 
Perca a consciência e até jogue tudo para o alto. 
Meu amigo, só espero que você nunca perca o principal, aquilo que lhe faz tão singular e especial.
Nunca perca sua essência para o mundo real.

junho 20, 2012

Nós

Ah, o maldito Nós.
Primeira pessoa do plural, mas duas pessoas singulares.

Linhas amarradas, cabeças tumultuadas, vidas entrelaçadas: nós.
Não queira fazer o Nós com matemática.

O Nós, apesar de ser eu + tu, não passa de uma coisa só.
O nó, singular, vira efeito colateral dessa matemática invertida: nó na garganta, nó no estômago, nó na cabeça.
Idéias, pensamentos, sentimentos, todos confundidos, embaralhados, entrelaçados num grande nó.


Ah, o bendito Nós.
O Nós é rico. Rico de carinho, rico de sentimentos, rico de devaneios.
Eu quero teu bem, tu queres meu bem, logo nós acabamos construindo um bem ainda maior.
Se eu penso, tu pensas, logo nós pensamos juntos.
Se eu choro e tu choras, logo nós compartilhamos de inúmeros outros sentimentos e sensações.

Um nó pode ser cego e costuma ser desatado.

Um Nós, não.
Esse tal Nós, que nada tem de cego, consegue enxergar melhor que muitos eles e elas,
e depende do nó singular, própria e metaforicamente dito, para existir: não há Nós sem um nó entre eu e ti.

Resumindo,
somos aquela primeira e segunda pessoa, do não conjugável numeral,

somos um erro gramatical, mistura de singluar e plural,
somos apenas um,

um Nós.

junho 05, 2012

ops.

Impressionante o efeito colateral que sua presença me causa. Qualquer problema parece tão insignificante, pequeno, perto da imensidão de uma alegria tão diferente e tão boa. Eu sempre quis um universo só meu, sempre quis um mundo que eu pudesse fugir, fosse pra pensar ou fosse pra simplesmente recriar minha existência longe da realidade que me rodeia. O engraçado é que nunca parei pra pensar em nenhum mecanismo capaz de me transportar pra esse universo paralelo.
Aí você apareceu.
Do nada, no meio de uma agonia absurda que me consumia sem ninguém perceber.
Apareceu igual luz em fim de túnel, da maneira mais sutil do mundo. e me fez pensar, imaginar, CRIAR meu próprio mundo, aquele tão desejado. O problema (ou solução), foi querer sua companhia nele, naquele universo, antes meu e agora nosso.
Suas palavras caem em mim, puras como som de cristal, puras como seus olhos e sua bondade. Aprendi que não é preciso estar perto pra chegar tão longe com alguém, que a nossa insignificância em meio a um universo, supostamente infinito, é o que acaba nos fazendo mediucremente singulares na nossa própria existência.
Aprendi a não deixar de lado todo aquele sentimentalismo que resolvi enterrar, abandonar e esquecer: há por quem valha a pena esse sentimentalismo continuar a existir.
Há por quem valha a pena tomar chuva e sair correndo, alheio a tudo, no meio do nada.
Há por quem valha a pena olhar pro céu e, ao invés de estrelas, imaginar cavalos de fogo em meio a cavalgada.
Mas, mais que isso. aprendi o valor de poder compartilhar meu mundo, sem censura,  recebendo em troca as mais belas palavras e os mais belos abrigos,
abrigos que só existem aí, no seu mundo tão incrível, compartilhado comigo.

maio 01, 2012

lua ou santa

noite cinzenta de lua santa, clara de natureza e viva como nunca. Eu absorvi desejos e palavras tão ácidas que, diferente dessa lua, quase pereci por mim mesma. Eu e minha nada sã existência: clareza embaçada de idéias, peculiaridade de modos. Vomitando palavras e digerindo os acontecimentos mais bizarros que já me ocorreram. Me colocaram à beira de penhascos e eu caí, me quebrei como fino cristal e perfurei meu ego, minha sensibilidade, minha ironia e malícia. Foi tanto e foi tão pouco.. olho pra trás e busco a falta, ahh ignorância! Onde ficou todo meu sentimentalismo? Porque tanta razão me faz padecer agora, quando antes só os sentidos me afligiam?
Fase minha, me faz ver tudo com tanta clareza agora que passo a duvidar até de minha própria existência. Parei de contar meus segredos até pro espelho. Hoje é só meu interior diáfano: deixo entrar as palavras que me são ditas, mas não deixo se encontrarem com aquelas encrustadas na minha alma. O que foi feito de mim? Onde foi minha existência tão viva? De tanto entrar e sair de vidas alheias, parece já não fazer diferença quando isso voltará a acontecer. 
Me acostumei com a pior coisa que me via fadada a ser: um sopro, uma brisa leve na vida de uns e outros, como maré que vai e volta, como aquela cinzenta lua santa que, com toda certeza, jamais aparecerá como fez aquela noite.
Só não sei até que ponto eu, lua ou santa, cinza ou brisa, vou depender de um céu escuro ou de nuvens carregadas de lágrimas para aparecer.